Os princípios da justiça
Em uma sociedade de cultura plural a condição para uma respeitosa convivência precisa-se da ética social e cidadã. O núcleo central da ética do povo judeu cristão é o amor ao próximo. Aos tementes a Deus, o amor é a escola para conviver e fazer-se presente no mundo. Como cristão preciso revestir-me dessa condição diariamente, da ética social e cidadã que exige o amor ao próximo. Eis uma nobre missão cristã de nosso tempo.
Para os historiadores o ser humano há cerca de 12 mil anos era caçador e coletor de vegetais, em que sua preocupação e ocupação diária era a luta pela alimentação e sobrevivência. O ser humano desta época era essencialmente nômade. Estabelecia-se provisoriamente em lugares onde havia animais para caça, vegetais como frutas e raízes em geral. As guerras e lutas eram motivadas pela sobrevivência e pela disputa do melhor lugar para alimentação e abrigo. Quando os alimentos e a caça terminavam deslocavam-se para outros lugares. Aos poucos na vida nômade iniciou-se o processo de formação de tribos, clãs, pequenos povoados usando da agricultura precária, o pastoreio.
Os estudos arqueológicos, comprovam que a partir de 10 mil anos a. C., as primeiras plantações foram as frutas, os figos no vale do Rio Jordão e de trigo e cevada na Mesopotâmia. Nestes lugares iniciou-se a domesticação e pastoreio de cabras, ovelhas, carneiros, bois, porcos e outros. As pinturas nas cavernas retratam essa história e as circunstâncias do cotidiano como as caçadas ou as guerras. A cidade mais antiga encontrada pelos arqueólogos chama-se GöbekliTepe, a cidade-templo, localizada na Turquia, a 11 mil anos a. C. O pão e a cerveja sãos os manufaturados mais antigos, a 9 mil a. C. A cidade de Jericó, é considerada a primeira cidade e murada, situada próximo ao Rio Jordão e a 30 km de Jerusalém. Em meados de 5.500 a. C. o sistema de irrigação foi desenvolvido na Mesopotâmia, bem como a fabricação do arado e do vinho.
Na História Antiga, com uma população de 5 milhões de pessoas, havia regras de condutas impostas pelos primitivos grupos sociais, para o melhor convívio dessa comunidade. O “costume” era a lei principal, a sanção penal era o desprezo, o isolamento ou até o banimento, a morte do infrator. As regras de condutas nessas comunidades eram condizentes com o seu estágio de desenvolvimento humano. Os estudos modernos buscam preservar essas leis da história antiga, as comunidades, as culturas desses povos, como é o caso dos aborígenes na Austrália e várias tribos na Amazônia no território nacional brasileiro. Hoje a verdadeira cidadania depende da escrita, das leis, da cultura, do acesso à educação e à informação e das condições para o desenvolvimento humano. Com o advento da escrita foram possíveis a compreensão e a valorização da diversidade cultural e do respeito ao princípio da autopreservação e autodeterminação dos povos.
Para o historiador judaico-romano Flávio Josefo (37 d. C.), o ápice da jornada do êxodo pelo deserto do povo hebreu está no relato do livro do Êxodo 19, pelo acontecido no monte Sinai. Moisés subiu ao monte Sinai, chamado também de Horebe, lá tudo contemplava e recebeu de Deus as tábuas da Lei. Ao retornar do monte, perante os olhos deslumbrados do povo, com duas tábuas que continham os dez mandamentos, escritos pelo dedo de Deus. Era a primeira Lei, a de Deus entregue ao seu povo, que estabelecia assim uma ordem, normas de relacionamento para a paz coletiva, o equilíbrio social e a sobrevivência do povo. Os dez mandamentos são os valores normativos sociais e coletivos da comunidade judaico-cristã (Êxodo 20).
O Estado moderno democrático encontra-se diante de um impasse com a globalização da civilização e pergunta: quais os princípios gerais da justiça? O filósofo John Rawls (1921-2002) apresenta dois princípios da justiça. O primeiro, cada pessoa deve ter um direito igual ao mais abrangente sistema de liberdade básicas iguais que seja compatível com um sistema semelhante de liberdade para as outras. Segundo, as desigualdades sociais e econômicas devem ser ordenadas de tal modo que sejam ao mesmo tempo consideradas como vantajosas para todos dentro dos limites do razoável, e vinculadas a posição e cargos acessíveis a todos. Em suma, primeiro, todos têm os mesmos direitos na ampla liberdade e segundo, que estes direitos sejam compatíveis para superar as desigualdades sociais e que todos tenham acesso à justiça.
Estes princípios estão em sintonia com a ética cristã apontada por Cristo na seguinte formulação: “tudo aquilo, que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles, esta é a Lei” (Mateus 7,12). As considerações de ordenamentos dos povos primitivos, os princípios da justiça e o núcleo da ética cristã são indicativos diferenciados e evita desproporcionalidade, portanto, as desigualdades sociais e as injustiças. Se a Operação Lava Jato tivesse observado alguns princípios éticos e cidadã da justiça não teria cometido tantas injustiças, a ponto em que todas as condenações foram anuladas pelo Supremo Tribunal Federal. Uma ética social e cidadã não se faz sem a verdadeira justiça, mas ao cristão exige-se um passo a mais, o amor caridoso que tudo liberta e transforma (1Coríntios 13,1-13). E o amor caridade é da natureza de Deus (1João 4,7). A justiça humana sem uma ética social transformadora é pó total (Mateus 7,26-27).
Comentários