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O pecado original e o pecado político-econômico

Miguel Debiasi

O que é o pecado? Com frequência ouve-se esta pergunta. Pergunta por vezes cheia de malícia, gozação e por outra com a seriedade. Na serenidade da pergunta há uma consideração pela natureza humana e a preocupação por uma existência ética. Toda pessoa sente a necessidade ou precisa de uma resposta esclarecida para não subverter as frágeis condições morais e seguranças humanas. O pecado é a subversão de todas as condições e seguranças humanas, como a ética e a social.

Os textos bíblicos ensinam que o pecado original está relacionado a desobediência do ser humano a vontade de Deus. Na narrativa de não comer do fruto “da árvore do conhecimento do bem e do mal”, denuncia a desobediência do ser humano ao mandamento original de Deus (Gênesis 3,1-13). Como todo pecado, ele é desobediência a Deus. A raiz da desobediência é a soberba humana. E a soberba não tolera nenhuma limitação. A sentença “de não comer do fruto da árvore”, diz da soberba do ser humano que deseja ser como Deus. Nenhum ser humano está livre da soberba, portanto, de desobedecer ao mandamento de Deus.

No mandamento de não comer do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: “Dele não comereis, nele não tocarei, sob pena de morte” (Gênesis 3,3). A serpente que é uma espécie de máscara para um ser humano hostil a Deus e inimigo da pessoa ou a tentação do maligno que insinua: “Não, não morrereis! Mas Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão e vós sereis como deuses, versados no bem e no mal” (Gênesis 3,4-5). O pecado de Adão e Eva está em transgredir o mandamento de Deus e que como punição divina, sofrem a expulsão do Paraíso terrestre (Gênesis 3,23). Em Adão e Eva, toda humanidade pecou e o pecado entrou na história humana como sendo um ato de desobediência a Deus. E todo pecado leva a queda, a morte.

No avanço da narrativa do Gênesis a teologia do apóstolo Paulo argumenta: “como por meio de um só homem o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte, e assim a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Romanos 5,12). Assim, também, a salvação entrou na história por um só homem: “Se pela falta de um só todos morreram, com quanto maior profusão a graça de Deus e dom gratuito de um só homem, Jesus Cristo, se derramaram sobre todos” (Romanos 5,15). Como a criação foi um dom, assim, a salvação foi um dom gratuito de Deus: “sabendo que nosso velho homem foi crucificado com ele para que fosse destruído este corpo de pecado, e assim não sirvamos mais o pecado” (Romanos 6,6). Logo, “se vivemos é para o Senhor que vivemos, e se morremos é para o Senhor que vivemos. Quer vivamos, quer morremos, pertencemos ao Senhor” (Romanos 14,8). A encarnação de Cristo e a sua paixão subverte inteiramente a condição humana, o pecado não deve dominar mais, mas sim a graça divina. Em Cristo a queda foi banida, o pecado derrotado e a elevação garantida.

Os filósofos gregos falaram de uma culpa original, vincularam isso ao mal que o homem sofre em si. Por esta concepção ficaram muito longe da explicação da natureza da culpa original, como percebido no mito platônico do Fedro. Talvez estariam os gregos convencidos que o homem se libertaria da culpa original em virtude do conhecimento, portanto, por força humana e de modo autônomo da graça divina. Mas para o cristão o pecado original é uma realidade muito mais inquietante que uma simples culpa, trata-se de uma desobediência ao Plano de Deus. A superação da desobediência a Deus não exige apenas um esforço intelectual, mas uma vida humana integrada e participativa no mistério de Cristo. Trata-se de viver a vida na dimensão da fé, que exige além do conhecimento a realização da essência do próprio homem mediante a participação no mistério de Cristo. Como escreve Paulo, “considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus em Cristo Jesus” (Romanos 6,11).

Que é o pecado político-econômico? O bloqueio econômico e as sanções políticas dos EUA a Cuba que dura 60 anos são exemplos deste pecado. O bloqueio e as sanções a ilha socialista são um pecado político-econômico que impedem o crescimento de um país, o desenvolvimento de um povo e que proíbe outros países que façam acordos bilaterais com Cuba. Os EUA mandatário de uma político-econômica neoliberal globalizada ao persistir neste bloqueio são os grandes responsáveis pelo empobrecimento do povo cubano. Diferente do pecado original, que a pessoa o supera pela fé em Cristo ou pela não desobediência a Deus, a nação Norte Americana liberta-se do pecado político-econômico pela mudança de mentalidade e pela postura de respeito as soberanias nacionais.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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