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A riqueza não pode ser para poucos

Miguel Debiasi

A riqueza é para poucos! A pobreza é para muitos. O ideal seria nem rico e nem pobre, apenas dispor do necessário para viver dignamente. Mas, enquanto persistir a lógica do acúmulo, poucos terão sempre mais riqueza e multidões passarão fome. Esta lógica pode ser modificada com outra consciência.

Levantamento da ONG inglesa Oxfam divulgado em março revela que cinco brasileiros concentram a renda de 50% da população mais pobre do Brasil. A lista dos bilionários é composta pelo trio da Ambev (Companhia de Bebidas das Américas), formado por Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, pelo banqueiro Joseph Safra e pelo investidor e cofundador do Facebook Eduardo Saverin. O que pouca gente sabe é que Jorge Paulo Lemann conseguiu autorização do presidente da República Fernando Henrique Cardoso para formar um monopólio no mercado das cervejas. Lemann também teve um papel determinante no golpe de 2016 ao permitir que sua Fundação Estudar fizesse o registro do domínio do movimento vemprarua.org. Em razão disto, Lemann é um dos pilares de sustentação do governo Temer em vista da privatização da Eletrobrás e outras estatais.

Outra estatística preocupante para a população brasileira se refere à renda per capita da Pessoa Física entre 2016 e 2017, a qual caiu 3,3%. Porém, no segmento mais rico da população, formado por pessoas que ganham mais de 160 salários mínimos por mês, a renda per capita cresceu 7,5%. Na realidade, a política econômica do atual governo promove a desigualdade social e a concentração de renda. Por conseguinte, desde o início do golpe de 2016 a pobreza aumentou em 53%, colocando o Brasil no mapa da fome mundial. Ainda conforme levantamento da ONG inglesa Oxfam 62 pessoas detém 50% da riqueza mundial e 99% desta é detido por somente 1% das pessoas.

A pobreza é recorrente à lógica da concentração de renda que favorece a quem tem mais e em contrapartida exclui multidões da sociedade. O modelo capitalista em curso contrapõe-se à proposta do Evangelho e da doutrina cristã. Bem disse o Papa Francisco na visita à Bolívia em 2015: “o atual sistema global que impôs a lógica do lucro a todo custo, sem pensar na exclusão social nem na destruição da natureza é insuportável”. Na oportunidade o pontífice propôs um movimento da sociedade mundial pela mudança na estrutura do sistema. Cabe observar que a convocação do pontífice é para que as ações pastorais da Igreja tenham inerentes a prática da solidariedade com os oprimidos, e que o anúncio do Evangelho seja elemento de transformação da sociedade.

Em seu histórico e duro discurso contra o sistema, dirigido à população mundial, o papa Francisco alertava que “o sistema global não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos”. Dessa forma, considera-se que o poder da palavra do papa Francisco vai muito além do sentimento da compaixão com os pobres e oprimidos. Isto é, ninguém pode eximir-se da responsabilidade de construir outra sociedade e outro sistema mais solidário e justo. Como denuncia nosso papa, “quando o capital se converte em ídolo e dirige as opções dos seres humanos, quando a avidez pelo lucro tutela todo o sistema socioeconômico, arruína a sociedade, condena o homem, transforma-o em escravo, até põe em risco a casa comum”. A superação da lógica e do modelo vigente passa pelo grito da multidão mundial que sofre fome. Só com uma mudança global a riqueza pode ser desfrutada por todos os homens e mulheres do mundo.

 

 

 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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