A comunidade dos bens
A modernidade configura novos paradigmas. Uma nova compreensão de espaço, tempo, das coisas, da vida, é pretendida. Tudo passa a ser compreendido por meio de verdades verificáveis. Nesta lógica, também se pretende configurar um conceito de Deus, do ser humano. Diante desta pretensão racional, nova narrativa é imprescindível para a relevância da comunidade cristã.
Sem dúvida, a ciência com seu método de pesquisa leva à descoberta de novos temas com ênfases científicas. Com o avanço do conhecimento, até as questões inauditas constituem uma gama de possibilidades para a ciência. Seu ponto de partida de discussão não é o teocêntrico, mas o antropocêntrico que declara "a morte de Deus”. A visão é outra, “Deus está morto”! Em alemão Gottisttot! Normalmente a frase é atribuída ao filósofo alemão Nietzsche (1844-1900). Mas, é Hegel o primeiro a usá-la. Na sentença interpreta-se, coroa-se a ciência como a portadora da verdade e a legitimadora da verificação e da interpretação da realidade. Consequentemente, o método da ciência contrapõe-se ao discurso religioso, da espiritualidade.
A esperança do mundo e da vida está sob o discernimento da razão. A concepção da existência humana será sem a intervenção dos critérios divinos. Da mesma forma, as noções de justiça, direito, vida, ecologia, tudo é evidência da razão. Apesar desta pretensão, a modernidade não teve seu sucesso esperado, o mundo sob o olhar antropológico e racional não esclarece todas as dúvidas. Teóricos entendem a pós-modernidade como uma reação ao processo da modernidade que levou o indivíduo à perda de sentido, de identidade, ficando reduzido aos princípios existenciais e imediatistas. Há quem diga que as reações são pífias por uma mistura de elementos modernos e pós-modernos. Com efeito, tem-se a percepção de nova cultura. Ao considerar a necessidade de novos esclarecimentos impõe-se abertura discursiva também da espiritualidade, religião, Deus, Igreja. Como é lógico, o ser humano transcende a razão e também desafia a concepção cristã.
Contudo, é preciso reconhecer que a celebração da subjetividade, individualismo, consumismo, pluralidade cultural, polarização social e mundo virtual são prerrogativas do indivíduo emancipado e chefe de sua alta liberdade. Isto significa o privilégio do indivíduo sobre as instituições, a comunidade. A tarefa que se apresenta à Igreja é a redescoberta do outro, do encontro, do relacionamento, do discipulado, da vocação ministerial na vida cristã. No fundo é preciso interrogar-se sobre ser cristão em processo de contextualização e adequação à nova realidade histórico-cultural mesclada de elementos modernos e pós-modernos. Cabe à Igreja local a construção desta nova identidade da espiritualidade cristã. Para tal, o ponto de partida é o discipulado de Jesus que proclama a libertação humana e convida, com seu exemplo, a viver em comunidade. Então, a palavra e o exemplo de Jesus despertam expectativas e esperança, pois ao chamar os humildes e desprezados da sociedade constituiu a comunidade como sinal de inauguração do Reino de Deus. A comunidade dos chamados é também dos bens em comum que passa a ser decisiva na superação do vazio existencial e espiritual da era contemporânea.
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